Envolvimento e Presença na Interação com os filhos: Qualidade X Quantidade

Alessandra de Camargo Costa

Envolvimento e Presença na Interação com os filhos: Qualidade X Quantidade

Uma das queixas das crianças no consultório é o quanto pais e cuidadores, em muitas situações, não conseguem sustentar a atenção à eles pois constantemente se voltam para mensagens e ligações de celular. 

Vivemos um tempo de interações  interrompidas, truncadas, “escutas” pela metade, mentes ausentes em corpos presentes.  

Envolvimento traz ideias de engajamento, comprometimento e presença. Conseguir se implicar, participando ativamente e afetivamente em algo. Essa presença engloba nossos sentidos: enxergar, escutar, sentir, e realmente abrir um campo de entrega para as vivências acontecerem. Ser pai ou mãe vai além de cumprir com funções educacionais e de sobrevivência. A partir de como nos disponibilizamos afetivamente para essa relação, de como dedicamos nosso tempo à estar com eles, deixaremos marcas e registros que serão únicos. A vinculação com as primeiras figuras de referência impactam vários aspectos do processo de estabelecimento de novos vínculos e a manutenção dos mesmos ao longo da vida. 

O que importa é a qualidade e não a quantidade. Do que estamos nos referindo quando fazemos essa afirmação?  

A experiência que a criança vive no encontro com a mãe ou pai não pode ser corrida, atropelada e somente um cumprimento de protocolos. São momentos de uma riqueza imensurável na construção de aspectos cognitivos, sociais e afetivos; uma rica oportunidade para o exercício de situações de reciprocidade, negociações e trocas de afeto. A qualidade de presença será de suma importância, mas também é necessário que dediquemos uma quantidade razoável de tempo à isso, que filhos sintam que serão a prioridade na agenda dos pais em algumas situações, que a história que estão contando pode ser tão interessante ou mais interessante que um e-mail de trabalho. A construção da intimidade acontece na convivência.  

O envolvimento parental significa o modo como os pais cuidam, investem e canalizam recursos para a sobrevivência e desenvolvimento dos filhos. Ele também se refere à quantidade de alegria e prazer que  experimentamos nessa troca, no desejo de estar com eles, na sensibilidade e responsividade às necessidades da criança e no grau de preocupação com o seu bem-estar. Neste processo, é interessante abrir um canal para conhecer o universo de interesses do seu  filho e se deixar afetar por qual desses mundinhos também desperta a sua criança interior, escolhendo uma atividade que também possa te proporcionar momentos de prazer e diversão. Filhos sentem quando pais estão apenas “cumprindo” um papel sem interesse genuíno. Não é necessário inventar mil e uma brincadeiras incríveis e excepcionais; não é isso o que a criança mais precisa. Alguns não gostam de brincar de casinha mas adoram assistir filmes,  enquanto outros preferem atividades ao ar livre. É muito gratificante quando percebem que os pais escolheram estar ali naquele momento, que estão movidos pelo desejo de partilhar experiências e não somente pela busca de controle e disciplina.  

Quando a criança percebe que o prazer é mútuo, a conexão com a figura do cuidador é imediata! A riqueza estará na presença do encontro, na escuta legítima, na troca de olhares e risadas compartilhadas.  

Espero que possamos cuidar mais da forma que do conteúdo. Muitas vezes a preocupação excessiva com o exercício do papel de educador, nos impede de explorar tantas possibilidades no encontro com a singularidade dessas criaturas que tanto amamos. 

   Esse caminho de investimento na relação oferece um estabelecimento de apego seguro, sendo este um fator primordial para as relações futuras, quer com seus pais, com os pares, outras pessoas significativas e, posteriormente, também com seus próprios filhos.  

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