Reflexões sobre o papel dos pais diante da rivalidade entre os filhos

Raquel de Queiroz Bárbara

Qual é o nosso papel, enquanto pais, diante das disputas e brigas entre irmãos? Como podemos agir para melhorar a relação entre eles?


Lidar com as brigas entre irmãos não é nada simples!! Quem tem mais de um filho sabe disso. Quando os desentendimentos ou disputas acontecem, muitas vezes eles correm para pedir ajuda. Quem se sentiu mais lesado, triste com o ocorrido vem reclamar do irmão e, quando os pais vão conversar com a outra parte envolvida, certamente irão ouvir várias justificativas do porquê fez o que fez. É comum os pais acabarem caindo no lugar de juízes determinando quem está errado e quem está certo na situação.

 

Proponho aqui uma pausa para reflexão:

 

Quais as consequências de agirmos como juízes? Será esse o único caminho? Será esse o melhor caminho?

 

A relação entre irmãos é marcada por uma série de sentimentos ambivalentes: eles se amam, mas disputam entre si pelo amor dos pais, por um lugar na família; são amigos, mas sentem ciúmes e raiva uns dos outros. Vivem tudo isso de forma intensa e ainda são imaturos para compreender e para lidar com o que sentem.

 

Quando agimos como juízes, sem querer, estimulamos a rivalidade entre eles, pois um se sente vitorioso e o outro, na maior parte das vezes, derrotado, triste e com raiva, o que gera novos desejos de atacar o irmão vitorioso. O que percebemos é que vira um ciclo vicioso.

 

Esse lugar para nós, pais, também é desgastante e pesado. Não é raro surgirem dúvidas angustiantes nesse processo: será que estou sendo justa(o)? Será que agi certo? Será que exagerei?

 

O meu convite é tentar deixar de lado ao máximo esse papel e assumir alguns outros que podem ser mais leves e mais construtivos. Como seria atuarmos como mediadores de conflitos?

 

Atuar como mediador consiste em estimular as crianças a encontrarem, elas mesmas, soluções para resolver o desentendimento. Mas, para isso, é importante compreendermos mais sobre o desenvolvimento infantil.
De acordo com Piaget, entre os 2 e 7 anos, a criança está em constante construção das ideias lógicas, mas ainda é egocêntrica, ou seja, ainda acredita que o mundo é voltado para ela e para os seus desejos. Por isso se irritam facilmente quando são contrariados e, por isso, é comum presenciarmos atitudes como: crises de choro e agressividade quando algo não sai da forma que querem; arrancar um brinquedo da mão do outro ou ainda não emprestar e não dividir coisas.

 

Ainda segundo esse autor, é somente por volta dos 7 anos que a criança passa a ter uma maior capacidade de resolver situações de forma mais lógica, pois passa a considerar, gradativamente, os múltiplos aspectos envolvidos naquele problema.

 

Levando isso em consideração, agir como mediador, no início, significar dar modelos e ideias de como resolver as questões. Assim, se um arranca um objeto da mão do outro, podemos ensinar caminhos mais interessantes como pedir ao invés de simplesmente puxar; dividir o tempo que usam o brinquedo, ou brincarem juntos. Em situações que envolve agressividade, é importante nomear e acolher o sentimento e, ao mesmo tempo, repreender a agressão. Sentir raiva é normal e compreensível, mas bater não.

 

Esse período do desenvolvimento é longo, dos 2 aos 7 anos, ou seja, teremos que repetir um milhão de vezes as mesmas conversas. Crianças não aprendem de uma vez por todas. Cada vez que repetimos um ensinamento, elas vão ampliando a forma de compreendê-lo. Por isso, é essencial a coerência e constância pois, se cada vez agimos de uma forma diferente, eles ficam confusos.

 

Gradativamente, à medida que ganham maturidade emocional, devemos estimulá-los a participar dos acordos. É importante uma pausa para que eles, com o nosso auxílio, pensem como resolver o conflito juntos.


Essas sugestões acima podem ajudar, mas para que as nossas atitudes sejam efetivas, precisamos sempre ter em mente dois aspectos:

 

  • é natural que as disputas aconteçam, elas fazem parte da vida e nosso papel, como educadores, é oferecer recursos para que as crianças consigam lidar com essas situações;

 

  • Nós, pais, somos modelos para eles. Assim, torna-se fundamental olharmos para dentro: como nós estamos resolvendo os conflitos? Como lidamos com disputas e desentendimentos? A forma que agimos estimula a disputa ou favorece a união e o amor dentro das relações?
    Só conseguimos ensinar para o outro aquilo que já temos desenvolvido dentro de nós mesmos!!

 

Referencia Bibliográfica

Shaffer, D.R., Kipp, K, Psicologia do Desenvolvimento – Infância e adolescência, 2ª ed., São Paulo, Cengage Learning, 2012.

 

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