Como aproveitar questões rotineiras como uma oportunidade de aprendizado e desenvolvimento?

Luciana Tiba

Como aproveitar questões rotineiras como uma oportunidade de aprendizado e desenvolvimento?

Não é na última prova do ano que o aluno é reprovado.

 

A Educação é uma construção feita a pequenos e demorados passos. Mesmo em uma família com mais de um filho, podemos ver cada um como único: único em sua genética, nas suas vivências, na disponibilidade dos pais e familiares no momento do nascimento (assim como demais momentos da vida), no ser e estar no mundo.


Porém, os valores, uma das bases dessa Educação, esses sim são os mesmos. São valores como amor, gratidão, cidadania, religiosidade, disciplina, solidariedade e ética, que permeiam o dia a dia da família e que devem ser exercitados e cobrados.


Os pequenos acontecimentos podem ser usados para esses ensinamentos. Lembro-me que, quando pequena, quebrei o puxador de uma gaveta. Meu pai não me deu uma bronca… o que fez foi ir comigo até uma loja, onde tive que procurar por um puxador parecido, depois acompanhá-lo em todo o processo para arrumar essa gaveta. O que ele estava me ensinando era que existe responsabilidade e consequência (muito diferente de castigo). A gaveta era da sala e, essa sala, utilizada por toda a família. Sendo a família uma equipe, cabe a mim (como membro dessa equipe), deixar o ambiente sempre preparado para o próximo a utilizá-lo. E assim, um pequeno acontecimento, foi utilizado pelo meu pai para me ensinar um pouco sobre consequência, cidadania e responsabilidade com os demais.

 

As atitudes praticadas pelos filhos são aprendidas em algum lugar: escola, amigos, internet, programas de televisão, família… Pensando um pouco sobre os aprendizados dentro da família, será que conseguimos estender esse olhar para nós mesmos? Quando você está ocupado(a) e alguém o(a) interrompe… qual é a sua reação? Quando algo que está preparando ou trabalhando não dá certo… qual é a sua reação? Quando você quer algo e não consegue comprar, adquirir, negociar… qual é a sua reação? Tudo isso é, na prática, ensinamento. Seguindo esses exemplos, vemos que a todo momento estamos ensinando os nossos filhos a: como conseguir a atenção, como lidar com a frustração e como “negociar” por brinquedos e brincadeiras.

 

Pensando um pouco nos conteúdos externos, como programas com cenas violentas ou a própria difícil realidade na qual vivemos: será que ao assistir ou vivenciar é isso que, necessariamente, um filho aprenderá? Ou podemos, mais uma vez, usar isso como uma oportunidade de conversa sobre temas como ética, cidadania ou solidariedade? Não só escutando a “opinião” deles, mas os ajudando a fazer boas perguntas, bons e válidos questionamentos sobre os acontecimentos. Assim, podemos caminhar para o desenvolvimento do pensamento crítico e não a apenas para as questões de “ter opiniões” (que são necessárias, mas não nos esqueçamos de que devem ter fundamentos e argumentos) e exigir direitos (que são necessários, mas não nos esqueçamos dos deveres).

 

Quanto a isso, mais uma vez, convido à reflexão: é só na televisão que eles assistem a cenas de violência, nas suas mais diversas formas? Como você cuida disso dentro da sua família?

 

As brigas entre irmãos ou familiares existem, e podem ser boas ferramentas para o exercício da socialização, uma vez que se tratam de uma forma mais controlada para o aprendizado da resolução de conflitos (pensando que em casa treinamos o que, posteriormente, faremos perante toda a sociedade). Mas dependerá de nós, mais uma vez, transformá-las em uma boa ferramenta de aprendizado e evolução ou utilizá-las para um caminho de satisfação de instintos, birras e mais brigas.

 

Esse cuidado e atenção no dia a dia exige muito esforço. Estamos todos cansados, esgotados, com rotinas extenuantes e vivendo incertezas, mas esse é um esforço que pode trazer belos frutos para a família e para a sociedade. Algumas coisas que podemos fazer: estudar, compartilhar, entender, aprender e desenvolver formas para tornar essa rotina um pouco mais leve e tentar fazer esse caminhar de forma, também, mais leve.

 

Podemos, então, encarar cada acontecimento como uma oportunidade para aprendizagem. Podemos, ainda, perceber que ao olharmos e cuidarmos das nossas próprias atitudes, já estamos cuidando de nós, dos outros e do que os nossos filhos estão aprendendo.

 

Assim, a comparação entre os acontecimentos familiares e a reprovação do aluno pela última prova do ano existe a partir do momento em que olhamos a Educação como esse “caminhar” e não apenas como um fato isolado. Ao cuidarmos desse caminhar, temos uma chance menor de reprovarmos nessa última prova… afinal, ela é apenas a materialização da construção do dia a dia.

 

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