Alessandra Camargo Costa
Quando falamos em limites, esbarramos em territórios simbólicos que permeiam questões de fronteira, bordas, container, segurança. Eles determinam uma linha entre dois territórios distintos: os físicos e também os emocionais. Penso que os limites nos colocam em contato com nosso próprio processo de humanização pois nos indicam até onde conseguimos chegar, que não somos super-heróis e onipotentes e que evoluímos ao longo da vida caminhando um passo de cada vez.
Vivemos um momento onde são quase infinitas e intermináveis as quantidades e fontes de informação disponíveis e acessíveis. Recebemos constantemente notícias e manchetes de todos os fatos do mundo, dicas e recomendações para sermos felizes, termos sucesso, sermos saudáveis e competentes em todos as áreas de nossas vidas. As falas: -Não estou dando conta ou preciso de mais tempo , continuo na correria, não vejo a hora de chegar o final de semana viraram corriqueiras. Estamos sempre extrapolando nossos limites, atropelando nosso ritmo e acabamos impactando nossas crianças com tanta pressa. Queremos dar conta de tudo e ser “mais ou menos” não parece uma boa opção. Será que essa dinâmica de funcionamento tem relação com o aumento da ansiedade, uma das maiores questões da atualidade, principalmente no Brasil? A ansiedade vem crescendo em faixas etárias cada vez menores.
Trazendo este tema para o universo da relação pais e filhos, encontramos, por parte dos cuidadores, uma vivência muitas vezes de sobrecarga, onde existe um excesso de exigência com eles mesmos. Vão tentando administrar demandas externas com suas expectativas em relação às suas próprias vidas e funções parentais, buscando condutas que julgam ser as mais adequadas e eficazes para seus filhos. Em síntese: temos encontrado pais super exigentes consigo que acabam transferindo essa exigência para os filhos.
A prática clínica mostra que, em muitas situações, a ansiedade tem relação com a falta de percepção dos próprios limites, de assumirmos mais tarefas do que daremos conta, de nos exigirmos mais do que realmente conseguiremos ou de nos pautarmos sempre em ideais ou modelos que nem sempre são os nossos. Reconhecer as próprias limitações é essencial num processo de autoconhecimento e equilíbrio emocional. Crianças precisam das figuras parentais para saberem até onde podem ir, e vão desenvolvendo o controle interno a partir dos limites do ambiente em que vivem.
Os pais ajudam os filhos a perceber os próprios limites e a respeitar o limite dos outros, à medida que também reconhecem em si os próprios limites, sendo este um desafio que é construído gradativamente na relação e no vínculo afetivo. Limites físicos, emocionais e relacionais. Poder mostrar as próprias vulnerabilidades para os filhos faz parte deste processo: assumir os erros, pedir desculpas, chorar na frente deles quando estiver triste, dizer que não está num bom dia, etc.
O limite, muitas vezes, frustra e incomoda, mas, ao mesmo tempo, oferece segurança e proteção. Ele nos ensina que não podemos tudo, que não conseguiremos realizar todos os nossos desejos e muitas vezes nos convida a buscar outras alternativas e estratégias, fazendo-nos aprender. Nesse processo de aprendizagem, o limite nos tira da acomodação e nos faz avançar cognitiva e emocionalmente. Ele nos convida a tolerarmos o que não é tão fácil, mas nos abre as portas para lançarmos mão da nossa criatividade e flexibilidade.
Em cada fase do desenvolvimento é necessário estabelecer limites aos filhos de forma diferente. Os pequenos, na primeira infância, necessitam de firmeza sem tantas explicações. Já os adolescentes pedem por uma troca onde caibam questionamentos. Mas, sem dúvidas, independentemente da etapa da vida, o respeito deve sempre estar presente e, mesmo que de forma mais gradativa, o que percebemos é que os valores e regras presentes na dinâmica familiar de forma consistente, serão incorporados como atitudes importantes nas relações para o resto da vida.
Combinados claros são importantes desde o início, já que assim os pequenos poderão saber o que se espera deles e até onde podem avançar. Todo lar precisa de regras mínimas para ser salutar. Algumas podem ser eleitas como inegociáveis e outras podem ser flexibilizadas. Os filhos precisam ter a clareza do que NÃO pode acontecer e para cada família isso pode ser diferente. Devemos nos perguntar: O que é desrespeitar na minha família? aumentar o tom de voz?, gritar? xingar? bater nos irmãos? Como posso ir estabelecendo limites claros e consistentes mas que respeitem, ao mesmo tempo, a individualidade de cada um? Não é um caminho fácil… e, neste caminho, não existem fórmulas prontas e que servem a todos. Existe o ideal e existe o que é possível…. e isso também é limite.
Cada família deve implementar suas regras de ouro que serão pilares norteadores em cada lar. À medida que crescem, novas regras passam a existir e uma conversa franca e recombinados serão sempre necessários, de acordo com a fase do desenvolvimento. O importante é que exista uma coerência entre o discurso e a prática.
O filho que se sente visto, ouvido e compreendido em suas necessidades e sentimentos, com certeza aceitará mais facilmente os limites colocados pelos pais. Na adolescência, poderão, de forma colaborativa, ir fazendo parte da construção de novas regras e combinados, internalizando valores e princípios que jamais deixarão de fazer parte de sua trajetória. Autoridade imposta sem afetividade e respeito ao outro só provoca rebeldia e impulso para a transgressão. Limites ensinados, considerando a existência singular de cada um, proporcionarão uma sensação de pertencimento e proteção. Estes serão necessários na transmissão de ensinamentos básicos referentes ao cuidado consigo mesmo, aceitação do que é possível em cada etapa e motivação para conquistar o que ainda não foi adquirido. São vivências importantes que vão gradativamente delimitando fronteiras visíveis e invisíveis no nosso processo árduo de amadurecimento na vida.
Uma oportunidade para reflexões, transformações e atuações preventivas; espaço individualizado de acolhimento para os dilemas e desafios enfrentados por pais e cuidadores…
Espaço de troca e reflexão sobre temas que envolvem o desenvolvimento da criança e do adolescente. Os temas são escolhidos a partir das necessidades do grupo, aliando informações teóricas e atualizações da área com as experiências pessoais.
Atualizações, intercâmbio de ideias e informações no campo da psicologia do desenvolvimento e competências socioemocionais na relação pais e filhos…