A importância da construção da autonomia desde a primeira infância: uma reflexão sobre os seus efeitos na formação dos filhos.

Raquel de Queiroz Bárbara

A IMPORTÂNCIA DA CONSTRUÇÃO DA AUTONOMIA DESDE A PRIMEIRA INFÂNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE OS SEUS EFEITOS NA FORMAÇÃO DOS FILHOS

Qual é o objetivo da educação que oferecemos aos nossos filhos? Que jovens adultos queremos formar? Será que nossas atitudes estão coerentes com o que acreditamos em termos de formação de uma criança? Esses questionamentos devem orientar as condutas dos pais e cuidadores ao longo do processo de educação. Imagino que, invariavelmente, as respostas recaem sobre o termo autônomo: adultos independentes, capazes de fazer escolhas conscientes, capazes de cuidar da própria vida. Mas, para chegar a esse propósito, é necessário um longo caminho de construção que se inicia bem cedo, na primeira infância.   

 

Voltando à definição, o termo Autonomia é de origem grega e o significado está relacionado à independência, liberdade ou autossuficiência. É um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria que, apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas. 

 

Como pensar nesse tema já logo no início da vida? O bebê é totalmente dependente dos pais para sobreviver. Os primeiros passos nesse longo caminho de construção da independência acontecem bem cedo, quando o bebê começa a tentar pegar objetos, engatinhar, depois a andar; quando quer experimentar comer, vestir-se, tomar banho, subir, descer, brincar, escolher sua roupa…tudo sem ajuda. 

 

 É claro que não podemos deixá-los escolher e fazer tudo sozinhos nessa etapa do desenvolvimento: primeiro porque ainda não têm a coordenação necessária para vários movimentos, segundo porque eles ainda não têm maturidade para saber sobre os perigos e nem sobre as consequências de muitas coisas que fazem. Mas como achar o equilíbrio entre proteger e oferecer oportunidades para experimentarem? Qual é o caminho para ir construindo essa autonomia de forma saudável?   

 

A superproteção prejudica o desenvolvimento dos pequenos, abala a confiança em si mesmos e a autoestima. Quando os pais resolvem todos os desafios e dificuldades pelos filhos, estes passam a não saber se são capazes ou não; mais do que isso, passam a se sentir incapazes. Por outro lado, expor a criança a desafios grandes demais, também é prejudicial, assusta, gera ansiedade e sentimento de incapacidade.  

 

Assim, a autonomia deve ser conquistada, devagar e sempre. A observação da criança é um importante ponto de partida pois, através disso, conseguimos perceber o que ela já é capaz, o que está treinando para conseguir e o que ainda está longe das suas possibilidades. Por exemplo: uma criança de 1 ano já consegue andar por tudo apoiado. Um adulto deve sempre pensar qual é o próximo estágio a ser alcançado. No caso, seria dar alguns passos sozinho e, sob supervisão, é importante encorajá-la a fazer isso. Ou seu filho de 4 anos foi convidado para dormir na casa do melhor amigo. Veja se ele está animado para ir. Caso esteja, significa que ele está disposto a tentar. Por mais que surjam medos e incertezas se já é o momento, se ele irá conseguir, caso seja um ambiente em que vocês pais confiem, é importante encorajá-lo. Ao sair de uma experiência como essa, ele estará mais fortalecido, sabendo que é capaz de se separar e voltar, que é capaz de dar os primeiros passos rumo à independência. 

 

Outro aspecto a ser ressaltado, são as exposições a dificuldades e frustrações. Enfrentar obstáculos, fracassar e superá-los é a base para que aprendam a lutar pelo que querem, para que tenham a noção da sua força. É comum que os pais, ao verem o filho frustrado, chorando porque quer algo ou porque não conseguiu realizar alguma coisa, tentem diminuir o sofrimento da criança. Dói ver os filhos tristes!! E, nessas horas, o primeiro ímpeto, é fazer qualquer coisa para deixá-los bem de novo. No primeiro momento, isso alivia a todos, entretanto, o que isso gera a longo prazo? Nas crianças, gera a crença que podem tudo, gera a incapacidade de lidar com fracassos, gera o medo de tentar, gera insegurança diante da vida.     

 

Aqui existe uma separação que deve ser pensada – entre atender todos os pedidos dos filhos, remover os obstáculos do caminho e acolher o sofrimento deles. Agir eliminando as dificuldades da vida dos filhos gera, como consequência, adultos mais despreparados. Mas isso não significa ficar longe e não ajudar. O fundamental é pensar qual é a forma de auxiliá-los: dar colo, falar para a criança que entende que ela está triste ou com raiva por não ter conseguido algo; estar ao lado dela, apoiando-a e incentivando-a a enfrentar as frustrações, os desafios e os momentos difíceis; pensar juntos de que maneira podem superar algo, certamente contribui para a formação de pessoas mais seguras e capazes.  

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