A importância do não saber na relação com os filhos

Raquel de Queiroz Bárbara

Psicólogos acreditam que os filhos devem dormir no seu próprio quarto; novos estudos mostram os benefícios do bebê dormir com os pais no início da vida; pesquisas mostram a importância das crianças terem acesso a novas experiências; outros artigos científicos apontam que o excesso de atividade é responsável pelo aumento do estresse em crianças….Como não ficar perdido diante de tantas teorias, informações e saberes?  

 

O mundo, ao longo do tempo, foi se tornando cada vez mais complexo e a forma de educar os filhos também. Antigamente, os pais se guiavam muito por seus instintos e pelos modelos de educação que eles próprios viveram.  Nas últimas décadas, vários desses modelos foram desconstruídos, outros muitos surgiram. Além disso, uma multiplicidade de novos conhecimentos pipoca a cada minuto, questionando e transformando as teorias. É muito difícil encontrar a melhor forma de educar em um mundo tão dinâmico e em constante transformação. 

 

Quando se decide pelo caminho de criar uma criança, normalmente, o início é marcado pelas idealizações – a alegria que será formar uma família, a experiência maravilhosa que será acompanhar e participar do desenvolvimento de um filho, os laços afetivos que serão construídos. Mas é impossível compreender, antes de entrar nessa estrada, o tamanho da responsabilidade que é formar uma pessoa. Nesse processo, é natural a busca por achar o jeito certo, afinal todos os pais, no fundo, querem que os filhos cresçam com saúde, sejam bem-sucedidos e vivam felizes para sempre. 

 

Com acesso a tantas informações, os pais, muitas vezes, vão buscando fórmulas que garantam o desenvolvimento pleno dos filhos. Ou buscam uma luz, uma direção para resolver problemas que não estão encontrando a solução.  

 

As teorias sem dúvida alguma podem ajudar, mas devem ser pano de fundo e não o centro; devem ser visitadas, experimentadas, mas não se transformarem em verdades absolutas. Quando se fica preso às teorias há o risco de não dar espaço para outros aspectos fundamentais no processo de formação dos filhos: olhar para si e olhar para o seu filho. 

 

Educar pressupõe conhecimento e conhecer deve vir a partir do NÃO CONHECER, do NÃO SABER. Educar acontece em relação e isso torna o processo muito complexo pois, invariavelmente, em vários momentos, compreendemos e julgamos as coisas a partir do nosso ponto de vista, que não necessariamente corresponde às formas do outro ver as coisas. Além disso, tudo o que fazemos afeta o outro e vice-versa. 

 

 

É fácil dar inúmeros exemplos de como isso acontece:  

 

– Uma mãe está atrasada para buscar o filho na escola. Fica angustiada e preocupada porque acredita que ele estará triste, se sentindo abandonado. Quando chega na escola, corre ao encontro do filho, ainda sentindo-se mal. Está tão imersa em suas próprias culpas e sentimentos que não consegue se dar conta que ele está bem, que a vivência dele foi outra.  

 

– Uma criança de 5 anos tem muito medo de monstro e não consegue dormir. Os pais conversam com o filho e falam – isso é besteira, monstro não existe. Pode ser besteira para um adulto que é capaz de discriminar entre fantasia e realidade, mas não é para ela. 

 

– Uma menina de 9 anos dá um selinho em um menino na escola. Os pais imaginam uma sexualidade precoce, ficam desesperados…Para a menina não passou de um desafio, algo que fez por pressão dos colegas. 

 

– Ou ainda, o filho que sempre foi um ótimo aluno, orgulho da família, começa a ter problemas na escola. Os pais, por saber do potencial da criança, por ver uma atitude mais irresponsável, começam a dar broncas, castigos. É comum isso exercer o efeito contrário ao esperado: quanto mais bronca, maior o descaso da criança. E quanto maior o descaso, maior também é o desespero dos pais. Talvez, esse foi um caminho que ela encontrou de expressar que está muito difícil se encaixar no modelo de filho exemplar, mostrar que não aguenta mais esse lugar. 

 

Ou seja, em vários momentos os pais julgam saber como os filhos estão se sentindo, e porque fizeram o que fizeram. Como acham que sabem, já atuam, consolam, criticam, brigam. Muitas vezes, sem perceber, desvalorizam o que o filho sente, não o compreende. Ou ainda, sem perceberem, acabam reforçando ciclos de comportamentos negativos. 

 

A angústia de falhar, o medo de não saber, a ânsia de fazer tudo certo, faz com que os pais se tornem rígidos consigo mesmo e com as crianças, saem agindo antes de compreender o que realmente está acontecendo. É uma tentativa de manter o controle das coisas. 

 

Saber educar deve vir do não saber, deve partir sempre e primeiramente de um processo de investigação:  

 

– Em primeiro lugar é fundamental parar para pensar – como eu estou me sentindo nessa situação. 

 

– Em segundo lugar perceber – e meu filho, está sentindo como eu? 

 

– Depois, investigar por que ele está se sentindo desse jeito ou porque agiu dessa forma 

 

Somente depois desse processo é que teremos condições de escolher um caminho. Mesmo assim, será uma tentativa, que pode não ser a melhor e que pode ser mudada, transformada. Reconhecer erros, tentar de outras formas, ensina algo maravilhoso para as crianças: erros fazem parte do caminho, não é algo ruim, é a partir dele que crescemos e evoluímos. 

 

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