O Trabalho parental e sua importância na educação emocional dos filhos

Alessandra Camargo Costa

As crianças da atualidade nasceram inseridas num contexto completamente diferente do que seus pais viveram há 30 anos:  são nativas digitais e recebem inúmeros estímulos tecnológicos desde a mais tenra idade. Por outro lado, são pouco estimuladas na experimentação de seus corpos na natureza e em suas habilidades psicomotoras como pular corda ou andar de bicicleta sem rodinha. Decifram aplicativos ou acompanham canais no youtube, mas não sabem amarrar seus próprios cadarços, dominam jogos digitais, mas não sabem jogar jogos de tabuleiro. Na nossa realidade brasileira, ainda vivem em um contexto de grande  insegurança e violência onde os pais acabam superprotegendo-as por medos e perigos reais. Vemos crianças que vivem uma erotização precoce, mas são imaturas em sua autonomia e têm baixíssima tolerância a frustrações.  

 

Os pais estão confusos, assustados e com medo do futuro. Precisam de um espaço para refletir e se perceberem neste processo de grande desafio na educação dos filhos na contemporaneidade. Como dosar limites adequados com afetividade? Como abrir um canal saudável de comunicação na família sem virar “amiguinho” do próprio filho? Como estimular a autonomia sem colocá-los em situação de risco? Como lidar com o consumismo exacerbado e a busca de aceitação numa sociedade onde a imagem e o ter se sobrepõem à subjetividade? Qual o papel de pais e cuidadores e como estes podem ajudar de forma mais efetiva? Essas são apenas algumas dúvidas enfrentadas por pais durante todo o percurso de criação dos filhos.  

 

Estudos atuais na área da psicologia ressaltam o quanto a saúde emocional das crianças está intimamente relacionada às características sócioemocionais do ambiente em que estas estão inseridas. Pesquisas recentes também evidenciam a importância das primeiras experiências relacionais para o desenvolvimento de competências que serão bases para habilidades durante toda a vida. A qualidade dos primeiros vínculos afetivos será crucial para a  capacidade de estabelecer relacionamentos íntimos em fases posteriores, estabelecer amizades duradouras e até para a capacidade de se manter futuramente em um emprego. Segundo o centro de desenvolvimento da criança da Universidade de Harvard, as fundações das competências sociais que são desenvolvidas nos cinco primeiros anos estão relacionadas ao bem-estar emocional, afetando a capacidade posterior de funcionamento da criança de adaptação à escola, e em estabelecer relações saudáveis ao longo de toda a vida. A epigenética é uma área da ciência que estuda e comprova como o ambiente influencia as experiências das crianças e realmente afeta a expressão dos seus genes, validando e explicando como as vivências precoces tem impacto a longo prazo.   

 

Essas primeiras vivências acontecem principalmente nas trocas e interações entre o bebê e um cuidador, tendo este último, um papel crucial como facilitador na promoção de um ambiente emocional saudável.  

Pais conscientes de suas próprias emoções, que têm a oportunidade de refletir sobre seus ideais e expectativas em relação aos filhos contribuirão e ajudarão os mesmos a regular o próprio comportamento, a expressar e manejar as emoções de forma construtiva e a desenvolver empatia pelos outros, estabelecendo e sustentando relacionamentos. 

 

A manifestação de um comportamento desajustado na infância ou adolescência precisa ser compreendida dentro de um contexto mais amplo, incluindo a dinâmica familiar em que esta criança está inserida. Um sintoma pode ser um “convite” aos pais para uma novo olhar para os filhos, mas também para si mesmos. Será que estão atuando de forma inconsciente, reproduzindo modelos antigos (que receberam de seus próprios pais) ou tentando seguir “receitas prontas” mas que não se adaptam às demandas particulares e únicas da individualidade de seus filhos? O que o comportamento do filho pode estar comunicando a respeito da dinâmica desta família?  

 

O desenvolvimento de uma parentalidade consciente, amorosa e assertiva inevitavelmente propiciará melhores condições nas trocas relacionais entre pais e filhos, resultando na promoção de saúde e bem-estar emocional para toda a família.  

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