Durante a evolução da nossa espécie, as mulheres estiveram mais voltadas para a questão da maternidade, do cuidar dos filhos e ambiente familiar. Mas e os pais, quando começaram a olhar para a questão da paternagem?
Desde a infância, a própria sociedade entregou para nós, mulheres, muitas brincadeiras que incluíam e incentivavam o desenvolvimento do papel maternal. Por outro lado, muitos homens se desenvolveram como transmissores dos seus genes ou como seres puramente provedores de suas famílias. Mas isso torna as mães melhores do que os pais?
Mãe não é melhor que pai, e pai não é melhor que mãe. Não existe uma disputa: são, apenas, diferentes. E, em relacionamentos saudáveis, ambos buscam o desenvolvimento.
Assim, caminhando por essa busca, muitos pais querem e estão se preparando cada vez mais para desenvolverem a paternagem e aqui, vale pensar em qual é o espaço que nós, mulheres, damos a eles para que desenvolvam mais esse papel. O quanto cobramos atitudes e comportamentos que são simplesmente a forma como nós fazemos e não os deixamos cuidar da forma deles? Qual o espaço que damos para que os pais invistam no seu papel de pai?
Quando o casal passa pela gestação, somos nós que sentimos cada movimento do filho, formando uma das formas mais íntimas de vínculo. Esse sentimento pode nos dar a sensação de que só nós entenderemos os filhos, suas necessidades e desejos. Mas será que não temos como incluir o pai já durante esse período? São diversas as formas pelas quais os pais podem desenvolver o vínculo com o bebê desde a gestação. Basta também abrirmos espaço para que isso aconteça e, com isso, o pai passa a exercer a paternagem desde o início, não se sentindo um estranho na relação, com o nascimento do bebê. O bebê também pode se acalmar com a voz e carinho do pai; o pai também é capaz de entender todas as necessidades e desenvolvimento do bebê.
Ser pai é ser provedor biológico. Exercer a paternagem é desenvolver vínculo, é se preparar para ser educador e ter força para colocar a educação de um filho como uma prioridade.
Já dizia Içami Tiba: educar não é deixar a criança fazer só o que quer; educar dá mais trabalho do que simplesmente cuidar dela porque é prepará-la para a vida.
Só o amor não é suficiente para educar um filho. É preciso preparo, dedicação, estudo para que se tenha uma educação orquestrada, é preciso de qualidade de relacionamento com o filho.
Ser pai não é ser amigo de um filho, pois isso, ele já tem muitos. Ser pai é exercer a sua autoridade conquistada, ensinar limites, disciplina e valores relacionais. É mostrar que o que é bom e gostoso, pode não ser adequado. E, além de ensinar, é cobrar que tais valores e princípios sejam exercidos.
Mas, ao fazer tudo isso, existe também um outro olhar. Um olhar para dentro… para a sua criança interior: como foi o meu relacionamento com o meu pai, padrasto, cuidador, ou “sem” um pai? Qual a imagem que tenho de um pai? O que simplesmente reproduzo das experiências que tive e o que realmente acredito que tenho que fazer como pai? Como me liberto de sonhos e pesadelos que podem ter sido vividos de forma tão forte? Que filho eu fui e que pai eu posso ou me permito ser?
Não tenho resposta para essas perguntas. Mas sei que elas devem ser feitas e refeitas a cada dia, pois elas é que vão direcionar muitas das nossas atitudes.
É um desafio constante: de aceitar a nossa imperfeição e a dos nossos pais, mas sabendo que, assim como nós tentamos, eles também tentaram fazer o melhor que puderam dentro das possibilidades e conhecimento que tinham em determinada época.
Um desafio constante: de nos olharmos e nos superarmos como seres humanos, de termos propriedade da nossa responsabilidade de criarmos pessoas boas para a nossa sociedade, formar cidadãos éticos, progressivos, competentes, felizes e, também, responsáveis.
De nômade sexual à paternagem, creio que já evoluímos bastante. Mas temos que continuar incentivando, apoiando e dando espaço para que homens possam exercer, cada vez mais, esse papel.
Ninguém nasce pai, torna-se pai.
Parabéns a todos os pais que trilham essa busca, exercendo de forma tão especial a sua paternagem.